O livro de Horacio Ruivo incide sobre o espaço na obra literária de José Saramago. Considerada
uma categoria intencionalmente privilegiada pelo escritor em muitos dos seus
romances, não apenas na dimensão física, mas numa multiplicidade de sentidos
emergentes a partir dos diferentes topoi apresentados, reconhece-se a
existência de uma linha ascensional que reflete a forma evolutiva como vão
sendo apresentados os espaços, reais ou sugeridos, em interação com as
personagens, implicando nestas um forte crescimento interior.
O texto editado pelas Edições Esgotadas explora as dimensões humana e simbólica do espaço. A cada uma destas
dimensões é associada, respectivamente, a memória e a violência, ambas
importantes linhas de forças na obra saramaguiana. A memória revela-se como um
espaço determinante na formação da consciência individual e coletiva: a memória
individual visa recuperar do passado a essência daquilo em que o ser humano se
vem a tornar; a memória coletiva surge pela necessidade de resgatar momentos do
passado histórico que foram intencionalmente eliminados do discurso canônico.
Por seu turno, a violência surge associada a espaços – menos físicos do que
simbólicos – e constitui-se como metáfora da sociedade, espaço onde o ser
humano é frequentemente desrespeitado ou induzido a um estado de apatia que o
impede de se afirmar e realizar.
A partir de
cinco romances analisados, A representação do espaço em Saramago: da negatividade à utopia procura sustentar a tese segundo a qual o espaço,
em Saramago, evolui da negatividade para uma dimensão de utopia, surgindo a
negatividade refletida na forma como o autor nos apresenta o espaço inicial, no
qual a movimentação das personagens parece contagiada por uma carga negativa
que as condiciona; desse espaço emanam, contudo, forças que fazem germinar nas
personagens a consciencialização do caos em que se encontram e as impelem à
busca de um outro espaço, de utopia, onde seja possível (re)viver.
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